quarta-feira, 3 de junho de 2009

Tempo, cansaço e modernidade

Por Renata Bernardino

Resolvi dar uma pausa. Estou simplesmente exausta. Só via teorias, só lia conceitos, me perdi dentro de um mundo que pensa incansavelmente. Apenas outra pessoa massacrada pela modernidade, que veio como o efeito borboleta, uma leve brisa do outro lado do mundo que ocasionou um tornado aqui. Fragmentou os sonhos, desmantelou quase tudo em que acreditava, ainda mais depois de sair da caverna de Platão. Quanto mais se sabe, mais se é cobrado. Com todo esse quadro é possível perceber que não sobra muito para ter calma.

Como acreditar em um mundo que visa mais a alimentação dos automóveis do que a dos seres humanos famintos, principalmente de atenção, educação, de preceitos básicos que fomente uma vida menos ordinária. Todos temos nossa parcela de culpa, mas julgar é sempre fácil demais. Sobram palavras para apontar o dedo na cara de alguém, porém, elas somem na hora de se auto-analisar e, nesse momento, as pessoas preferem fazer piadas sem graça. Olhar para o rabo do outro, pois não exige nada de si mesmo.

Depois que fico irritada, chateada, cansada, permito que uma lágrima muda percorra meu rosto e sinto uma dor angustiante, mas isso não pode durar muito, pois o mundo - extremamente barulhento - exige o tempo todo. É o trabalho, a faculdade, a família, amigos e tudo mais. Você descobre as grandes mentiras do mundo, essas são piores do que descobrir que papai Noel não existe. Apega-se em utopias. Quer resgatar valores perdidos ou corrompidos no tempo e espaço, você luta para suportar o que um dia pareceu ser mais forte do que você. Você só quer voltar a ter uma vida normal. Só que você foi além. Viu algo que transcende a tudo o que caracterizava a “normalidade”. Não existem mais meios de voltar da mesma forma, seus olhos jamais enxergarão da mesma maneira.

Não estou equivocada, apenas observo de modo diferente. Quis esse caminho e agora encaro as conseqüências dele. Preciso de um tempo de silêncio. Quero acamar minhas emoções, olhar para minhas luzes e sombras. Tive que parar um minuto durante a terapia para falar como nada que escrevo me agrada, como acho sem graça, percebi que falta o quê sempre me moveu para tal ato: paixão. Paixão em colocar cada palavra no papel. Era movida pela paixão, pelo calor das emoções, submersa em intensidade, serenidade, era meu lado mais feroz contra o mais delicado.

De tudo não sobra muito de concreto, apenas algumas lembranças que, provavelmente, serão eternizadas, enquanto outras desaparecerão para sempre. É o tempo que age e dilui o que teima e martelar na mente, tenta apaziguar as saudades do coração. Não existem métodos rápidos que sirva para todos, se fosse assim os livros de auto-ajuda seriam a salvação da humanidade. Como eu detesto esses livros, quem sabe o quê é bom pra mim sou eu e não o autor de um livro qualquer.

A saudade é o que teima em doer em alguns momentos como este. A vontade de chorar surge controlada, pois se der trela para ela irá doer muito mais, e é justamente neste instante que lembro que desapegar não é frieza, pois Deus sabe como meu coração está aflito. É preciso de tempo, espaço e resignação.

Não posso falar de planos, nos últimos tempos resolvi apenas seguir. Acordo, trabalho, vou pra faculdade, durmo, dia vai, dia vem, situações acontecem, vejo muitas coisas e, de repente, percebo que passou uma semana, um mês, outro mês e o tempo segue, massacra tudo, leva os sonhos que brotavam, destrói esperanças, mas também é o que acalma o coração.

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