domingo, 21 de junho de 2009

"DipRoma" ou não, eis a questão

Por Renata Bernardino

É pessoas. Hoje vesti meu nariz de palhaça e vim falar com vocês sobre a questão da não obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo. O Supremo Tribunal Federal (STF) julgou que tal fato seria uma maneira de restringir a liberdade de expressão. Vamos relembrar nosso amado capitão Nascimento do Tropa de Elite. Troquemos “bandoleira” por “diploma”:
“Capitão: Você está sem bandoleira sr. 23?
23: To senhor!
Capitão: Seu companheiro cai no chão baleado você vai fazer o quê com esse fuzil?
23: ?!...
Capitão: Vai jogar no chão?
23: Não senhor!
Capitão: Vai enfiar no cu???
23: Não senhor!
Capitão: Então coloca essa porra dessa bandoleira 23”

Podemos relembrar as mulheres dos anos 60 e queimar nossos diplomas. É muita idiotice resumir quatro anos de VIDA em um pedaço de papel. Foram anos de dedicação, esforço, quebra de paradigmas, ampliação do cabedal teórico, entre outros. Sejamos honestos, qualquer um pode escrever, isto é fato incontestável. Mas as normas jornalísticas ficam onde? Vão passear no inferno junto com os diplomas? Existem gêneros, estilo e ética profissional. Não é apenas pegar um conhecimento e colocar as palavras no papel. Os jornalistas não são autoridade em nada, mas são os mediadores que passam a realidade do modo mais imparcial possível (ora, todos sabemos que a objetividade é um mito... a é, isso é ensinado na faculdade...).

Pra quê saber sobre a história da comunicação, suas teorias, ou como analisar um discurso. Realmente, é muito mais fácil ter a atividade jornalística produzida por não “dipRomados”. Eles certamente saberão escrever, mas não entenderão os artifícios de sugestão no discurso político, ou acharam que a Veja e a Rede Globo, são os que existem de melhor! A questão do diploma não entra dentro do grupo dicotômico de discussão sobre jornalismo especializado: quem escrever? O jornalista com suas técnicas, mas embasado no conhecimento do cientista; ou o próprio cientista deve escrever como bem entender? Achar que foi essa a intenção é um erro.

Estudamos para lapidar informações com o uso certo de palavras. Cada texto é uma obra. E, um belo dia, ouvimos essa comparação, no mínimo, não orientada pelo seu assessor de imprensa, de Gilmar Mendes "Um excelente chefe de cozinha certamente poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima o Estado a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área". Assim como para escrever não é preciso faculdade, para cozinhar também não, mas vai comparar o cara que corta legumes com o chefe de cozinha! Ambos mexem com comida, mas de modo diferente. O chefe sabe a quantidade certa de tempero em cada prato, assim como o jornalista na construção de uma reportagem (que requer checabilidade, veracidade, apuração de fatos, entre outros).

O que falta no Brasil é a ruptura do preconceito que os especialistas têm para com os jornalistas. Disse e vou repetir “não somos autoridade em nada”, apenas reproduzimos para a nação o que eles precisam saber, com uma linguagem padronizada ao qual eles já estão acostumados. Deixa de ser um diálogo de especialista para especialista e vira uma informação difundida para todos. Mas para que? Se qualquer um pode cozinhar (outro termo jornalístico) o que lê em qualquer site de busca, como o Google - o Deus que tudo sabe - e quem sabe, ter sorte de não cometer um erro por falta de checabilidade como no da Escola Base não é Sr. Ministro?

Agora todos podem ser o que querem. Sei dar conselhos, vou virar psicóloga; o curandeiro pode vestir o jaleco e dar plantão no ps; não há como responsabilizar ninguém, não precisa mais de registro nenhum. É a hora de meter bronca! Vamos falar tudo o que vier na cabeça e pronto! Logo veremos baixar uma nova ditadura para controlar os hormônios de todos nós, jornalistas e escritores, que não temos que arcar com nada, pois não existe regulamentação!

Será que alguém já se deu conta de uma das sordidezes mascaradas por tal ato? Jornalistas estudam cultura, filosofia, ética, economia, política, um arsenal de disciplinas para que ele tenha embasamento para fomentar suas matérias. Dar o direito de qualquer pessoa escrever o que bem entende em um grande meio de comunicação de massa é alimentar a alienação. Jornalistas são formadores de opinião. Para poder fazer este trabalho precisam ter consciência do seu papel na sociedade, conhecimento teórico e SUA opinião formada. Se nem o presidente é “dipRomado”, por que os formadores de opinião deste país iriam ser?

4 comentários:

  1. Muito bem lembrado e colocado o diálogo do filme, deixo meu muito obrigada.
    Sem sombra de dúvida este espisódio é uma injustiça da justiça! Só amplia a falta de discernimento do governo, sua hipocrisia e talvez quem sabe, uma vendeta, porque não?!
    Patéticos e cretinos os que acreditam nas justificativas vãs e leigas dos votantes.
    Esse é um ato de desvalorização de uma classe já fragilizada, e se acham que estão nos "ajudando", por favor, peço que retirem a máscara da bondade, pois não convence.

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  2. Sou jornalista formada e, perante esta babaquice toda só tenho algo a dizer:

    -QUERO MEU DINHEIRO DE VOOOOOLTAAA!!!!!

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  3. Rê,

    vamos continuar CAUSANDOOOOOOOO!!!!! rsrs

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  4. Bem amigos, eu acho isso uma total palhaçada com a gente, que depois de quatro anos de muito, trabalho, esforço, dedicação e às vezes choro e muito estress para aturar, não acho certo depois de tudo isso perdermos tempo e dinheiro em nossas vidas em troca de "NADA," ao invés de um grande oportunidade em iniciar nossa profissão com qualidade que é o que queremos.
    Eu mesmo nem sei se depois disso, terei vontade e gosto em terminar meus estudos, até chegar nesse vazio, o que quero, é que vcs também querem é uma boa colocação e aceitação no mercado de trabalho que deveria ser mais valorizado e remunerado em quem se inicia na carreira.

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