sexta-feira, 26 de junho de 2009

Quatro anos em um papel

Por Renata Bernardino

Hoje, 26 de junho de 2009, é mais um sexta-feira fria na capital paulista. Quase tão apática quanto eu neste dia. É uma época de perdas. Pessoas que morreram, ciclos que se encerraram, ideais rompidos, éticas quebradas, o descaso geral.

Não estou em luto pelo Michael Jackson. Ainda estou inconformada com a não obrigatoriedade do diploma para a prática jornalística, mas é muito além que isso. Hoje, o que pega mesmo, são as lembranças, muitas devido à questão do diploma.

Lembrei-me do dia que fui buscá-lo. Também era sexta, também estava frio e garoava um pouco, exatamente como hoje. Entreguei o protocolo ao moço, ele entrou na sala e começou a procurar o meu diploma. Dava para observar-lo mexer no arquivo, pois a sala era daquelas em que a metade de baixo é aquela divisória bege e a de cima vidro.

Eis que aparece um papel na mão dele. Nesse momento percebi algumas lágrimas percorrerem pelo meu rosto. Ali foi minha formatura. Era como se visse um filho pelo outro lado do vidro. Um filho que teve gestação de quatro anos. Lembrei dos dias em que passávamos no Mc e íamos correndo pro Lego pegar a última sessão de qualquer filme que estivesse em cartaz. Da viagem pra Maranduba, das festinhas no último final de semana antes das aulas, dos amigos secretos, dos trabalhos intermináveis e, como não poderia ser diferente, lembrei dos desgastes. Todos temos problemas, não vou alongar-me no meu drama, basta dizer que houve uma época que tive que me ausentar por 90 dias e, mesmo assim, dei a volta por cima e superei muitas vezes o meu limite.

Quando dei por mim o moço estava chegando, é, isso tudo que falei acima se mesclou rapidamente em minha mente, será que é assim quando morremos? Enfim, ele disse que não via a hora de pegar o dele também. Eu li cada palavrinha e as lágrimas escorriam numa sensação de dor e alegria. Coloquei no envelope. Segui rumo ao estacionamento. Mostrei meu diploma para o “seu” Mário, que abriu um sorriso amigo e ali eu dei mais um adeus.

Não lembro de ter me emocionado assim na colação de grau ou na formatura. Claro que chorei nessas ocasiões. Mas quando era eu e o meu diploma...foi tudo tão mágico. Eu não vivenciei tantas coisas por um pedaço de papel. Eu vivi intensamente por quatro anos e parte de disso está impresso ali. Impresso numa “tinta invisível” num livro de centenas de páginas! Esse papel me dá o direito de trabalhar na área que escolhi, que agora esse papel não faz diferença nenhuma, mas ele foi fruto de momentos que nunca mais se repetiram.

Naquele dia, de certa forma, a Fênix virou cinzas para começar a renascer outra vez. Realmente tinha acabado. Algumas coisas mudaram, outras nem tanto. Sinto uma falta imensa dos meus amigos, parte deles considero como irmãos. Foi estranho voltar para casa cedo. Comecei a fazer pós graduação. Agora quero ver as emoções que este novo “papel” me trará no dia que vier para minhas mãos.

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