segunda-feira, 6 de julho de 2009

A culpa de uma dúvida

Por Renata Bernardino

Creio que grandes culpas surgem por causa das dúvidas. Dúvida sobre ter tomado a atitude correta, ou, justamente por não termos tomado nenhuma. Em determinadas ocasiões elas voltam em outras dúvidas e, até mesmo, em lamentações “se eu tivesse feito isso como seria agora?”. Sabemos que os atos de hoje refletem no nosso amanhã, deve ser por isso que sempre temos dúvidas.

Em algumas ocasiões deixamos o “complexo de avestruz” falar mais alto, apenas enfiamos a cabeça no primeiro buraco que vemos e o mundo parece voltar a estar confortável. Também sabemos que é apenas um ato paliativo. Por causa do complexo de avestruz tenho muitas dúvidas sobre como minha vida seria hoje. Então resolvi não ceder mais para ele. Sábado eu tirei a cabeça a terra para evitar o “se” no futuro. Estou muito aliviada, fora isso não sei mais nada, eram coisas que teria que lidar de qualquer maneira. O que mais vale é a consciência leve.

Vocês devem estar se questionando o por quê disto. Bom, depois de tudo eu não queria sair, navegar pela internet. Apenas queria ficar no meu canto e fazer algo que gosto para me distrair. Corri para a locadora da minha amiga Rafa, a Labirintos vídeo (se quiser mais informações veja o post: http://semorabopreso.blogspot.com/2009/06/rata-de-locadora.html). Logo que cheguei, por volta das 19 horas, ela já percebeu que eu não estava bem, ainda falamos como eu não consigo disfarçar como me sinto. Enfim, conversamos bastante e ela me ajudou e escolher uns filmes. E, como quase sempre, tem a questão de lembrar qual eu ainda não tinha visto.

Fui pegar um cujo título me agradou ela nem deixou eu pegar “você não está no clima para ver ele, outro dia você leva”, isso é uma das coisas boas de ir lá. Ela sabe meu gosto e escolheu filmes que não iriam me deixar pior, muito pelo contrário, um deles veio a calhar perfeitamente com a situação. Antes de falar diretamente do filme, quero dizer o quanto me emocionei com a Rafa. Sai de lá já eram nove e meia e vi como ela conhece o gosto de cada um, não vou dizer cliente, pois todos ali agem mais como amigos. Sem contar o papo que tivemos.

Depois de tudo eu tomei um banho, peguei o bichano e fomos para o quarto ver os filmes. Fiquei em dúvida de qual escolher, então comecei justamente pelo filme Dúvida. O filme baseado da peça teatral Dúvida, vencedora dos Prêmios Pulitzer e Tony traz um suspense dramático que ocorre dentro da escola paroquial Saint Nicholas. Começando com o sermão do padre Fliynn (Philip Seymour Beauvier), com o tema “Dúvida”, já notamos a fuga dos tradicionais e, diga-se de passagem, maçantes, sermões. Meryl Streep, no papel da Madre Aloysius, mostra grande performance ao buscar erros na conduta do padre que mostra interesse especial por um garoto problemático.

O filme de John Patrick Shaney é alicerçado na questão da dúvida. Não há certeza sobre o comportamento do padre em relação ao menino. Mas a irmã persiste em sua opinião ao ponto do padre ser transferido por uma artimanha que nos mostra como ela tem certeza em base de algo que não foi comprovado. Ela conclui com a opinião dela segundo os atos dele, que sempre se mostrou muito carismático e “inovador” para igreja.

Entre as perfeitas entrelaçadas do clima de suspense, vemos como algumas pessoas agem segundo o preceito de Maquiavel “os fins justificam os meios”, de uma maneira realista, sem exageros. Ainda não formei minha opinião sobre o que o padre realmente fez, o filme mantém a proposta do título e nos deixa em dúvida. Mas a questão mais importante é o comportamento da madre. Ela se mostra rígida e, ao longo do roteiro, começamos ver um lado, pode-se dizer assim, mais humano ao assumir que tem dúvidas.

Foi a escolha perfeita para o meu momento. Dúvida nos permite várias reflexões sobre comportamentos e julgamentos. Longe de clichês e finais totalmente banais. O filme termina e começam as questões sobre seu ato após ela ter mostrado esse lado mais “gente”. Gente que erra, gente que tem que fazer escolhas, gente que age segundo o que acredita. Indaguei-me ainda mais sobre como agir quando existem dúvidas. Não aquelas que implicam apenas no complexo de avestruz em saber alguma coisa que pode mudar todo o fluxo da sua vida sem prejudicar ninguém. Refiro-me àquelas que ultrapassam o “complexo do mundo gira ao meu redor e posso fazer tudo o que quiser e tudo bem”. A culpa é, muitas vezes, o preço da dúvida!

Um comentário:

  1. "Complexo de avestruz" é ótiiiiimo!!!!

    kkkkkkkk

    Mto bom o texto, flor!!!!

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