segunda-feira, 6 de julho de 2009

Dar brilho aos que necessitam

Por Alex de Souza, Gisele Carmona, Patrick de Godoy e Renata Bernardino
O Projeto Futuro Brilhante garante maiores chances aos jovens brasileiros por meio do ensino profissionalizante.

Nascido a partir da necessidade de ajudar outras pessoas, profissionais do ramo automotivo idealizaram o Projeto Futuro Brilhante, voltado ao ensino profissionalizante de adolescentes. José Ailton Siqueira, instrutor técnico de pintura veicular do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), e Josival Soares da Silva, da empresa Lincoln, são os “pais” do projeto, que completou um ano no último mês de maio.

Siqueira afirma que ele e os outros profissionais sempre pensaram em como realizar um trabalho social voluntário e a resposta aos seus questionamentos foi o Futuro Brilhante. “O mínimo que a gente pode fazer é tentar mudar a realidade de algumas pessoas ensinando aquilo que a gente sabe”.

Inicialmente, o projeto começou na Fundação Casa, antiga FEBEM, mas já ultrapassou seus muros e já atende várias comunidades. O Futuro Brilhante oferece aulas em que são ensinados os ofícios de polidor e colorista. Além disso, trabalham o conceito de cidadania e oferecem assistência religiosa. O nome Futuro Brilhante tem a ver com a missão do grupo, que é possibilitar um amanhã de oportunidades para os jovens.

O Futuro Brilhante trabalha com vários parceiros que ajudam com brindes e materiais utilizados nos treinamentos, mas busca também parceiros que possam empregar esses jovens. “Precisamos de um local em que eles possam trabalhar e ter uma oportunidade de crescer. Por mais que a gente dê essa assessoria, quando eles voltam para seus locais de origem, o assédio é muito grande”, ressalta Siqueira.

Ele critica o consumismo de nossa sociedade, que induz um jovem a querer o melhor tênis, a melhor calça, o último aparelho de celular, etc. “Se ele sai [ao referir-se à Fundação Casa] e não tem oportunidade de trabalho, volta a praticar pequenos furtos, roubos, envolvimento com tráfico. O que a gente realmente quer é dar uma oportunidade para eles ganharem o dinheiro deles, progredir profissionalmente e continuar estudando”.

E o projeto já tem várias histórias de sucesso. Uma delas é a de “x”, ex-interno da Fundação Casa, que trabalha na Dry Wash de São Vicente. A empresa foi uma dos primeiros parceiros a oferecer emprego a jovens infratores. Além do curso de polimento, Gustavo fez um treinamento corporativo para trabalhar na empresa.

Ampliar o raio de ação

Desde 2008, o Futuro Brilhante tem atuado fora da Fundação Casa. “O que aconteceu é que estamos atendendo pedidos de comunidades, centro de recuperações, ONGs, etc. Temos um centro de recuperação em Santo André – tratamento para dependência química, outra clínica em Guarulhos, na periferia, e a ONG Renovação, que trabalha há 20 anos com cerca de 700 jovens da região”.

A própria ONG indica os jovens por meio de uma seleção dentro da comunidade em que atua, mas nos centros de treinamento todos os internos são envolvidos no projeto, eles estão ampliando a área de atuação para a comunidade como um todo.

No próximo semestre, uma nova sede passa a fazer parte da iniciativa: a Fundação Casa de Osasco, que disponibilizará sua infraestrutura para uma turma com 56 jovens. Serão ministrados no próximo semestre os cursos de polimento automotivo, martelinho de ouro e, pela primeira vez, o de colorimetria. Em breve novos temas passarão a fazer parte dos cursos do Projeto Futuro Brilhante, entre eles, ética e conduta, e informática.

O crescimento do projeto tem sido muito rápido, em boa parte devido aos parceiros, que apóiam como voluntários para dar aulas, com doações ou mesmo na montagem dos kits de polimento para os alunos. No começo, Siqueira imaginou que seriam apenas quatro ou cinco pessoas atuando com o projeto, mas logo no início já eram 15. Hoje, são mais de 50 voluntários e o grupo só não é maior porque não há espaço para abrigar tantos colaboradores.


Dificuldades na Fundação Casa

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) tem mudado o pensamento da sociedade em relação aos jovens infratores. A primeira dessas mudanças é o tratamento dado ao adolescente. Segundo o ECA, todos os maiores de 12 anos são responsáveis por seus atos infracionais e podem ficar em regime de privação de liberdade caso sua infração seja considerada grave. É bom ressaltar que não há sanções previstas para as crianças (menores de 12 anos), nesse caso, os pais são o foco das medidas.

Ainda que um adolescente seja surpreendido cometendo ato infracional, a internação é a última das medidas a ser tomada. O texto do ECA prevê que o jovem privado de sua liberdade deve participar de atividades pedagógicas, profissionalizantes e esportivas, mas, na prática, nem sempre é o que acontece, de acordo com Siqueira.

“Embora o nome não lembre cadeia, é uma cadeia. Parece uma cadeia, tem normas de cadeia; então só conseguimos desenvolver lá o curso de polimento, por questões de segurança: produtos à base d’água, nada inflamável, nenhuma ferramenta pontiaguda”. Siqueira relata que, mesmo com todas as dificuldades, tem feito sacrifícios porque acredita que os jovens podem mudar sua realidade. “Nós acreditamos neles”.

Na fundação Casa o grupo que faz parte do projeto não consegue ter um controle muito próximo, até mesmo porque existem limitações judiciais. Ailton admite ser mais fácil trabalhar nas comunidades. “Temos acesso para entrar em contato, visitar, etc”.

Pedagogo de formação, José Siqueira afirma que a atividade de educador é a que mais lhe agrada entre todas as que ele desempenha. Afirma ser fundamental, inclusive em instituições como a Fundação Casa, que a educação venha antes que outras medidas. “Tem que ter um investimento em educação, a gente sabe que muitas vezes a pessoa tem educação, mas tem má índole, mas muitas outras é a falta de educação que faz a pessoa seguir outros caminhos.”

Oportunidade real

Para ele, a área de funilaria (polimento) está repleta de profissionais sem qualificação. O maior problema reside no fato de que as empresas investem milhões em produtos, mas o profissional que vai executar o serviço não está preparado por não ler o manual ou não saber trabalhar com o produto, o que prejudica o produto e a profissão de polidor.

“Os profissionais abrem oficinas, mas não investem em informação. O ramo exige informação. O cara diz que sabe pintar, mas está cheio de vícios. E, durante 20 anos, trabalha do jeito dele, do modo dele, sempre trabalhou assim não vê necessidade de mudar”.

O objetivo em curto prazo é formar mão-de-obra qualificada para um mercado carente de polidores e coloristas. Contudo, o grupo tem um objetivo maior, que é mudar a vida dos jovens e mostrar-lhes que há outros caminhos que conduzem ao sucesso, que não sejam a marginalidade. De qualquer modo, partir de uma conversa e chegar onde chegou já é um grande feito que, no mínimo, já mudou as vidas dos próprios idealizadores.
Futuro Brilhante comemora um ano em formatura

Aconteceu no dia 9 de maio a formatura da quarta turma do projeto “Futuro Brilhante”, iniciativa social que vem oferecendo para jovens de comunidades carentes e de centros de recuperações cursos na área de embelezamento automotivo.

Desta vez, foram 15 formandos, sendo dez da comunidade Restauração, local onde ocorreu a festa de formatura, e cinco da Casa de Recuperação de Guarulhos. Cerca de 60 pessoas compareceram à cerimônia, que comemorou também o primeiro ano de atividades do projeto idealizado por José Ailton Siqueira, instrutor técnico de pintura veicular do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) em parceria com Josival Soares da Silva (da Lincoln).

A cerimônia da entrega dos diplomas começou depois da exibição da Banda Futuro Brilhante e de uma retrospectiva em vídeo do curso. Junto com o diploma, os formandos receberam kits para polimento. O material, doado pela Lincoln e pela Starquímica, contém uma linha completa de polidores e de boinas, para que os recém-formados possam começar a trabalhar na área. “Formar uma nova turma é uma imensa alegria. Afinal, nosso maior bem são as pessoas”, enfatiza José Ailton Siqueira.
Site do Projeto Futuro Brilhante: http://www.projetofuturobrilhante.com.br/

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