terça-feira, 4 de agosto de 2009

Voz e volume no parque

Por Albino Junior

Na postagem "Voz e volume na web 2.0" eu mostrei que a grande maioria dos blogueiros associados aos principais portais da internet brasileira é formada por brancos diplomados e com mais de 30 anos idade. Sendo assim, eu incitei o leitor, no final do artigo, a contar quantos negros fazem parte da blogosfera em dois grandes portais. Naquela ocasião o internauta pôde ver que dentro do jogo capitalista a formação conta muito, o que de certo modo está certo, pois como formadores de opinião, sites como UOL e Ig devem levar uma formação de qualidade aos seus leitores - mesmo que os interesses sejam apenas de lucrar e defender os seus interesses ideológicos. Também não podemos, logicamente, acusá-los de serem racistas, porque, como todos nós sabemos, boa parte da população negra não possui um poder aquisitivo bom, dificultando assim o acesso ao ensino superior, ensino esse que produz formadores e blogueiros de opinião, segundo a grande mídia.

Mas o negro também não encontra-se presente em espaços onde a burocracia e o currículo não possuem importância, como os parques públicos. Locais onde qualquer pessoa pode circular livremente, seja para passear ou para realizar alguma atividade física. Tirei essa constatação ao ver que na Cidade Universitária a população caucasiana e até mesma a de descendência oriental é a esmagadora maioria. Aos sábados, dia onde frequento o local, o espaço é tomado por centenas de ciclistas e corredores, além de pessoas que fazem exercícios físicos acompanhadas de seus treinadores particulares. Mas vamos nos ater somente ao grupo de pessoas que não gastam dinheiro com profissionais, e nem com biciletas para queimarem calorias e espantarem o stress.

Essa parte dos frequentadores usam equipamentos básicos para a realização de suas caminhadas e corridas, onde o principal conselho, segundo os ortopedistas é o uso de um tênis correto para tal prática. Ou seja, tênis, camisa e calção, além de um aval médico, são mais do que suficientes para que qualquer cidadão brasileiro em liberdade possa realizar uma atividade física ao ar livre. Mas algo inibe certos grupos sociais. Talvez seja o tempo, ou até mesmo um acanhamento psicológico. Sinceramente, eu não sei. Mas é engraçado vermos que ao contrário das praias, os parques de São Paulo, que são de livre acesso, não são igualmente democráticos. Farofeiros, playboys, brancos e negros não são representados com uma porcentagem equivalente às estatísticas. É triste, mas real. O exercício físico de não-atletas é algo praticado majoritariamente por brancos, que como os blogueiros dos grandes sites, devem ter mais de 30 anos e ao menos um ensino médio nas costas.

Esse é um paradigma visto na USP, mas que também pude ver no parque da Água Branca e na Avenida Inajar de Souza, Zona Norte de São Paulo, local esse próximo à periferia da capital paulista. Sendo asism, não tem como culpar a localização geográfica e a demografia de certos bairros, como Butantã e a Água Branca - onde a maioria dos seus residentes é composta por brancos de classe-média-, pois o acesso é gratuito. Lá a democratização, na teoria, é a mesma de uma praia, onde um negro que ganha um salário mínimo pode dividir espaço com um empresário como Roberto Justus (apesar que esse último deva preferir o clima mediterrânico das praias de Ibiza).

Abraços!

Obs.: Caso eu resolva fazer um mestrado fora da área de comunicação, a minha dissertação poderá tratar sobre o tema. Não copiem a idéia! rs

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